Sabe a verão. Sabe a tardes quentes e longas, sabe a entardeceres laranjas e prateados no reflexo da água de uma praia qualquer. Sabe a noites amenas, daquelas que basta uma t-shirt fresca para nos sentirmos confortáveis. Sabe a noites em que as horas não importam.
"Point Of Go" é isto e muito mais. Hugo Manuel, é o líder dos Jonquil, que apesar do nome bem lusitano é gales. As referências para se catalogar Jonquil são várias e subjectivas. Contudo eu escolheria compará-los a uns Talking Heads, que se desenvolvem depois numa pop mais tribal, com batidas afro, e oriundas das caraíbas. É uma excelente escolha para o verão que se aproxima cada vez mais, embora esta primavera cinzenta não deixe adivinhar.
A primeira questão que me coloco, é o porque de ter demorado mais de dois meses a escutar com plenos ouvidos este "Put Your Back N2 It". A resposta poderá residir no facto de inconscientemente saber que se tratava de uma obra prima no seguimento do maravilhoso "Learning" (2010), e como tal, involuntariamente, e como somos seres curiosos por natureza, a minha atenção foi canalizada em outros nomes, ficado o novo álbum de Perfume Genius incompreensívelmente e injustamente em segundo plano.
Hood, o single de apresentação já tinha tocado variadas vezes, mas só ontem me propus a abrir e reproduzir este album, que residia na pasta dos pendentes já há demasiado tempo. E a relação que se estabeleceu foi mágica e completamente arrebatadora, o que me levou a minha própria auto-crucificação por ter sido negligente como referi.
O génio de Mike Hadreas transportanos de novo por versos auto biográficos, com grande carga sentimental e com uma sensibilidade única. Mike sente aquilo que canta, isso é óbvio e cria uma relação de proximidade e cumplicidade com o ouvinte única. Canta o desencanto, por vezes o desespero a catarse vivida e obtida de experiências duras. Quem de entre nós não se identificará com todos estes temas, ao longo da nossa existência. A temática gay assume novamente grande importância nas composições de Hadreas mas isso passa a segundo plano, pois a conexão com a realidade que nos abarca a todos assume maior preponderância, sem que deixe alguém indiferente. A melancolia a dor e a esperança, todas elas são mais belas acompanhadas do perfume da voz de Hadreas, e toda a sua genialidade.
Finalmente chegou um dos albuns mais aguardados deste ano. Pessoalmente "Sweet Heart Sweet Light" era aguardado com bastante expectativa.
Os lendários Spiritualized regressam então quatro anos após o fabuloso "Songs in A& E" com o seu sétimo album de originais, e como sempre deslumbram e apaixonam desde a primeira escuta, que nos transporta desde logo a uma dimenção musical mais elevada e tão peculiar quanto inconfundível. A demora e o intervalo de tempo entre "Songs in A&E", e este "Sweet Heart Sweet Light" é explicada pelo próprio Jason Pierce líder da banda, que afirma que "ao gravar um disco, esse processo deverá ser a coisa mais importante do seu mundo", e remata com "sou obcecado com a musica e não acredito em qualquer regra". Uma verdade que transporta para a musica de Spiritualized, onde a regra não existe, mas onde tudo é extraordinariamente perfeito.
Como sempre a beleza utópica das composições de Spiritualized não falta, assim como as belas orquestrações que vivem e respiram lado a lado com as distorções e arranjos mais agressivos. Em resumo já se sabia, mas é sempre bom constactar que não importa o tempo de silêncio...no final Spiritualized nunca desilude e vale sempre a pena.
Sem dúvida um concerto a não perder em junho no Primavera Sound.
Cresci (bem ou mal) a ouvir certos programas de rádio por vezes musicalmente distantes, que me marcaram muito a diversos níveis. São os casos do Coyote de Pedro Costa, e da Caixa de Ritmos de Nuno Reis, programas da Antena 3 sobejamente conhecidos. Relativamente ao último, a Caixa de Ritmos que vive à procura da batida perfeita, tem como slogan de apresentação uma frase curiosa: "Porque a música de dança também é para ouvir". O facto é que esta frase é verdadeira, mas só o pode ser quando a qualidade está presente.
"Brighter" dos dinamarqueses WhoMadeWho é expoente máximo que dá validade ao slogan citado no parágrafo anterior, e a prova de que a grande maioria das pistas de dança espalhadas por todos esses cantos, só não tem qualidade porque não se quer, ou devido ao desconhecimento. Se a razão for a segunda, a resolução seria simples. Se a resolução da segunda não resolver a primeira (o mais certo!), ai já nada mais há a fazer a não ser seguir para outras paragens.
"Brighter" assume proporções que há muito não ouvia na electrónica, e chega inclusive a remeter-nos para os fundadores do movimento da electrónica/expermental, bandas como Neu e Kraftwerk dos longíncuos anos 70. Quarenta anos depois WhoMadeWho prova que este movimento está vivo e recomenda-se. Chamem-lhe electrorock, synth-electro, o que quiserem, mas o facto é que o melhor adjectivo que se poderá oferecer a "Brighter" é potente.
Uma excelente alternativa para estes dias, que são de férias para muitos, e que prometem noites mais longas, e se possível com batidas mais elegantes e nobres ao som de WhoMadeWho. Recomenda-se.
A primeira coisa que despertou a minha atenção nos Canadianos The Wooden Sky, foi, antes mesmo do que a sonoridade da banda, a semelhança do timbre de voz do vocalista Gavin Gardiner com Ryan Adams. Chega a ser impressionante a similitude com o grande singer-songwriter norte-americano. Posteriormente as composições musicais apenas vieram completar o aumentar de interesse neste "Every Child a Daughter, Every Moon a Sun".
O estilo onde The Wooden Sky se sentem mais confortáveis é sem dúvida o folk e o alt-country, mais acentuado neste novo trabalho, onde as composições estão mais lentas maduras e complexas. Em resumo um album seguro que demosntra toda a evolução da banda nos ultimos anos, genuíno e generoso. Uma excelente companhia para a estrada.
Se eu pudesse ser uma outra coisa qualquer, escolheria ser uma canção.
Se eu pudesse ser uma canção, voaria pelo ar, notas espalhadas ao vento até à tua janela. Fluiria até que em mim reparasses. Simples mas nem tanto, contudo tentaria. Faria o melhor que sei, e nao desistiria, nem mesmo depois de passar de moda.
A distância que aumenta o vazio que sinto e que persiste indesejávelmente não seria problema então. Porque voaria livremente. Estilo? A quem importaria isso? Porque me haveria de preocupar se o meu objectivo seria apenas um....o meu objectivo sempre foi singular. Objectivamente a distância distorce-o, e não mais o consigo alcançar com o mesmo sucesso. Contudo tento da melhor maneira possível, mas nada acalma a saudade e o desespero imaginando que o todo possível, podería não ser suficiente. Se pudesse ser outra coisa qualquer, escolheria ser uma canção, sim....daquelas que se colam e não mais saem da cabeça. Daquelas que ficarias a cantarolar todo o dia. Daquelas que ficam...
Gostas desta canção?
-Sim dirias tu.
De zero a mil? Perguntaria eu com um sorriso...
-Mil, responderias tu!
Amo-te de mais.
E assim do nada fazes-me sentir a mais bela canção que já existiu. E quero sê-lo para sempre. Se algum dia me perguntarem qual é a musica da minha vida direi e repetirei que és tu...uma musica tal que nos torna maiores que qualquer muro, montanha, estrada, rio, oceano...
Conto as horas até te voltar a fazer aquela pergunta. Falta pouco...
Gostas desta canção? perguntarei...e tu vais sorrir. Até la sobrevivo e mantenho-me a tona o máximo de tempo que consigo. Aguento o fôlego quando me afundo um pouco mais, mas conto os minutos para te ver e rápido flutuo. Não vivo, sobrevivo, porque conto os segundos para te abraçar. Só tu percebes aquilo que canto e lhe dás sentido.
Depois do capítulo um, o capítulo dois. La para o ido ano de 2007 "Chapter One: A Long Way From Home" marcou a estreia de The British Expeditionary Force e tem agora a sequela com o "Chapter Two: Komstellation Neu", que era já muito aguardado por estas bandas. E finalmente já toca por cá.
O capítulo dois perde uma boa dose do experimental que escutavamos no capítulo um, e ganha peso a electrónica o post-rock, mais orgânico e exuberante. Seguros de si e do que procuram neste segundo separador do que presumivelmente será uma trilogia, British Expeditionary Force constroem um album em torno de emoções que se contradizem ao longo do alinhamento, variando entre a luz e a escuridão nas composições, nunca tropeçando, muitas vezes sem deslumbrar, mas outras atingem a velocidade da luz em direcção ao topo.
Vale a pena entrar neste universo. A par de bandas como os These New Puritans e os Sunns, The British Expeditionary Force são a elite a encarnar a nova musica experimental que alia o progressivo aos sintetizadores.
Uma bela surpresa este "Shallow Bed". O som do quinteto londrino Dry The River é dificil de catalogar, mas arriscaria a dizer que se poderá reduzir a uma interessante e refrescante mistura entre o folk e o indie rock, algures entre os Fleet Foxes, os The Antlers e os Shearwater.
"Shallow Bed" é resumindo, uma bela colecção de canções, que emocionam e surpreendem, épico e brilhante, harmonioso na forma como combina os arranjos instrumentais com os belos vocais de Peter Liddle que impressionam pela beleza. A forma como o álbum vai evoluindo ao longo do alinhamento tem um epílogo épico, brilhante, com Lion's Den que me deixou sem palavras. Sem dúvida um álbum superior.
Para já uma das boas surpresas de 2012, e uma das melhores estreias.
Resta agora saber se o talento demonstrado serve para encher o leito do rio, que pelas primeiras audições está repleto de boas vibrações e sem dúvida onde se pode beber mais do que bons momentos.